terça-feira, 29 de maio de 2012

Sandices




Pedrinho, certo dia, chegou e perguntou a sua mãe.
-Mãe!
Diga Pedrinho, disse a senhora.
-Mãe, você me ensina a pensar?
A mãe, sem dar muita bola a Pedro respondeu querendo se livrar do garoto e voltar aos seus afazeres.
Ah Pedro! Vá amolar seu pai que não está fazendo nada e me deixe terminar o almoço!
Pedrinho então chega ao pai que lia o jornal.
-Pai! A mãe falou pra eu vir pedir pra você me ensinar a pensar.
O pai olha para o filho, sem saber muito o que dizer e depois de voltar-se ao jornal diz: - Ah Pedro! Por que você não vai brincar com seus amiguinhos?
Pedro sai porta afora desolado, enquanto chutava pedras encontrou o padre Inácio pelo caminho.
-Padre! Sua benção.
-Deus te abençoe criança, como vai?
-Vou bem padre, mas queria te pedir uma coisa.
-Pois diga pequeno.
-Padre, o Sr. me ensina a pensar?
O padre pegou o crucifixo que sempre carregava no bolso e voltando-se aos céus pediu pela alma do pobre garoto, afinal, Deus sempre fora pelos pequeninos.
Depois de uma longa caminhada Pedrinho encosta em uma árvore e adormece. Quando de súbito e de susto acorda, assustado olha pela janela do quarto do hospital onde está internado, ao lado a enfermeira o chama e prepara sua medicação diária. Pedro hoje tem 86 anos.
Pedro então lembra-se da última conversa que teve com seu avô, pouco antes do mesmo morrer.
-Vovô! O Senhor me ensina a pensar? Ninguém quer me ensinar.
O avô, com um sorriso que lhe era peculiar responde ao garoto:
-Meu filho, todos lhe querem bem...

(João Baptista de Lima Guimarães)

quarta-feira, 23 de maio de 2012


Tempos de paz

Não, a providência não lhe quer em paz;
Vai! Levanta! Valente, ginete guerreiro!
Veste tua armadura, empunha teu fuzil!
Cobre os olhos com o ódio;
Encharca a mente com o sangue;
Enverga teu estandarte;
Que a batalha a frente clama;
Guerreiro! Homens de guerra nunca encontram a paz;
O mundo é o mais perverso tabuleiro de xadrez;
Veja! A frente a nuvem de fumaça já levanta;
É cheiro de combate, é cheiro de vitória;
Marche guerreiro, marche;
Ao lado de César, Aníbal, Napoleão e Alexandre;
Marche guerreiro, marche;
Que não é do mundo ter bondade;
Soldado! Não se esqueça;
Honra!
Glória!

(João Baptista de Lima Guimarães)

terça-feira, 22 de maio de 2012


Somos pó, nada além de pó;
Pior, somos menos do que o pó;
Que o pó, ainda é observado por nós;
Todavia, o pó é totalmente indiferente a nós;
(João Baptista de Lima Guimarães)

Fico pensando o que seria a imagem que temos de Deus. Sim, porquê existindo ou não, o mesmo seria incompreensível a pífia razão humana.
Deus nos aparece como entidade perfeita, dotada de justiça infalível e bondade infinita, características humanas que todavia nem de longe conseguimos praticar.
Por projetarmos em Deus as nossas próprias possibilidades, o que tanto gostaríamos mas nunca conseguiremos ser, tenho a impressão que por vezes o invejamos.
Seria do homem invejar o criador?
Soa como pecado, não? O homem querer ser Deus e não o poder.
Ao meu ver esse sentimento nos aproxima sim é do diabo, o decaído que por um sentimento humano foi arremessado dos céus. Afinal, o que é mais humano do que a vaidade?
Da mesma forma que Lúcifer, também fomos expulsos de um local de deleite, pelo visto o trauma nos fez mais parecidos do que imaginávamos.
(João Baptista de Lima Guimarães)

quinta-feira, 17 de maio de 2012


O apaixonado não quer saber quanto tem na conta;
Falta de dinheiro resolve-se com sentimento;
Para o homem apaixonado, o homem é sempre bom;
Sabe que toda a miséria é digna de compaixão;
Que toda ostentação é tolice;
Que problemas simplesmente não existem;
O apaixonado é tolo, acredita na bondade;
Presente pra ele é o sol, a lua;
Banquete são frutas;
O apaixonado só vê o melhor em tudo;
Apaixonado, é o homem perto de Deus;
(João Baptista de Lima Guimarães)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Há pessoas que veem o mundo como números;

Há os que veem apenas como problemas;

Também há os que nada veem;

Eu tento ver não de forma boa, ou ruim;

Tento ver o mundo como poesia;

(João Baptista de Lima Guimarães)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Que o mundo é mesmo redondo, não há dúvidas.

Espanta-me sim o homem ter levado tanto tempo para constatar o fato.

Ora! E por acaso chegamos a algum lugar diferente?

Quem pode dizer: Eu fiz diferente! Errei por terras nunca antes idas!

Sim, por mais que andemos, caímos nos mesmos lugares, sofremos as mesmas dores e nos enganamos da mesma forma.

Mesmo em uma só vida, quem dirá: Aqui nunca antes estive!

O mundo gira meu caro, só gira;

E girando nos temos sempre nos mesmos lugares;

Nos mesmos termos, nos mesmos erros;

Ah! Pudera sairmos pela tangente;

Arremessados ciclo afora, erraríamos universo afora;

Erraríamos! E enfim saberíamos se errar é mesmo humano;

(João Baptista de Lima Guimarães)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Metrópole (prelúdio)




A metrópole impõe-se;

Filha do homem, incestá-o;

Engole-o e profana-o

Sim, olhe a sua volta;

O que há senão metrópole?

A cada par de metros;

Só ferro, concreto e aço;

Não há mais vista;

Não há mais vida;

Tudo é cinza;

A metrópole nos consome;

(João Baptista de Lima Guimarães)

terça-feira, 8 de maio de 2012


Viver é irresponsável!
Sentir é irresponsável!
Amar é uma tolice!
Ser amado é uma sandice!
Como pôde o criador;
Trazer ao homem a dor;
E disfarçá-la em brios de amor?
Ser amado é qual um crime;
Amar é uma crendice;
Sentir é intolerável;
E o que foi dito, contestável...

(João Baptista de Lima Guimarães)

terça-feira, 1 de maio de 2012


Quando vieres, por favor, venhas nua;
É! Nua! Tire os casacos pesados de tanto passado acumulado;
Livra-te desta maquiagem, só de vaidades, e mostra tuas rugas;
Mesmo estes acessórios, que em vão tentam me distrair de você;
Não, não precisas de salto, venhas sentindo o chão com os pés;
Solte teus lindos cabelos, para que só o vento os penteie;
Sem camisolas, lingeries, teu tímido olhar já é pudor;
Nada, nada de vestes, nada de marcas, nada de nada;
Venhas vestida de si mesma, apenas;

(João Baptista de Lima Guimarães)