terça-feira, 28 de janeiro de 2014

XXXIV
Náufrago em um oceano de vazio, eis o que sou.
Agarro-me ao pequeno bote, minúscula embarcação onde tenho a minha vida. Vaso que guardo minhas experiências, conhecimentos, posses, a plenitude da minha alma cabe neste medíocre barco, nesta partícula ínfima, reles frente ao oceano infinito, nihil que me cerca.
O que percebo, melhor, o que suponho, é que todos também têm suas embarcações, também têm suas vidas em barcos. Alguns são gigantes, transatlânticos, já outros, como o meu, minúsculos onde mal podemos nos agarrar.
A diferença entre os homens, e o que os faz igual, é como cada um lida com seu próprio. A grande maioria passa a existência em função do seu próprio barco sem notar o abismo do entorno. Todavia, somos todos náufragos que julgam guiar suas naus com destino certo, o que não sabemos é que navegamos pelo nada para chegar a lugar algum.
Todos navegamos, remamos até o certo naufrágio sem nunca ter tido a oportunidade de porto, ou terra.
A vida é um lançar-se a ondas.
(jblg)
XXXV
Do poema que escrevo;
Cada palavra é pedaço da alma;
Cada verso, linha, letra colocada;
É como talho, ferida provocada;
O poema que escrevo;
É vã esperança de cura;
Como se da caneta, invés de tinta;
Corresse sangria d'alma envenenada.

(jblg)