sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

XXXVIII
Busco, como faminto revirando o lixo, um pouco de vida em cada gesto, cada ação;
Neste ofício, neste réquiem, o tempo passa sem nada deixar;
Não que me considere digno de algo, pouco ou nada fiz ao mundo para desejar algo dele;
O que incomoda é o abismo de vazio a frente;
Com um tropeço caio inevitavelmente, fatalmente, e me espanto com a queda sem fim;
Mergulho, desabar eterno sem chegar a canto algum, sem nada encontrar;
Nem céu, nem chão, somente a própria delusão;
Só que faço é esperar,

(jblg)
XXXVI
Existem coisas difíceis de dizer, quiçá de escrever;
Pegar da caneta e transpor paixão no papel é difícil matéria;
Mas vamos lá, que ao menos nos resta tentar;
Pegar da caneta e lembrar;
Lembrar dos olhares imersos em versos, em vinho;
A expressão de entrega e pavor, torpor, quando nos aproximávamos;
Lembrar dos teus lábios, nossos lábios, unos, tocando-se enquanto fechávamos os olhos;
Lembrar da tua respiração pesada, teus seios arfando em paixão;
Dos beijos no teu pescoço, enquanto lentamente soltava teus cabelos;
Da alça solta do teu vestido, enquanto te puxavas para mim;
Do sabor dos teus seios, tão belos, tão macios;
Da lentidão do tecido caindo, de cada parte do teu corpo;
Do toque molhado do teu sexo, enquanto tuas rendas eu tirava;
Do sentir tua boca em meu sexo, do seu olhar, do seu sabor mais indiscreto;
Ouvir teus gemidos enquanto em garras atentavas minhas costas;
Lembro, lembro de tudo isso, além de lembrar como era o gozo contigo alcançar;

XXXVII
Tenho em minha boca seu sabor mais indiscreto;
Por suas vias proibidas eu vago intrépido;
Seus mares, seus vales, os atravesso;
Em seus caminhos tortuosos, desconexos, desonestos, estou imerso;
Quer com suas unhas minhas asas libertar;
Com um rasgo, a rebentar, a si me puxa;
Como nevoeiro que me cega, seu colo inunda;
Minha mente, minha paz, a tudo turva;
Sou enxurrada que preenche cada parte;
Tomo a obscuridade, somos ilusão de liberdade;
Amantes vis, hereges, aos prazeres entregues;
Da paixão escravos, atados ao destino cármico;
Para ao fim de tudo nos afogarmos em gozo eterno;