terça-feira, 1 de abril de 2014

XLIV

Infelizmente, ou quem sabe nem isso, vim ao mundo desprovido de coisas que tornam a vida um pouco mais tolerável.

Vim ao mundo sem crer em nenhuma grande causa, nunca fui acometido por nenhum grande ideal, nenhuma fé arrebatadora, nenhuma comoção maior.

Tampouco cai em qualquer armadilha que meu ego poderia ter criado, até meu ego é um incompetente. Não cai em ardil, não tenho ilusões de que partirá de mim qualquer grande ação, qualquer grande feito ou qualquer grande ideia que fará alguma diferença no mundo. Até porque, não acredito em grandes ações, nem em grandes ideias, nem em diferença no mundo.

A história salva alguns, por ser incompetente para condenar a todos. Os grandes feitos, os heróis, os vilões, são meros acasos. As coisas simplesmente se dão, pois não poderiam ser de outra forma, e acreditar em algo diferente é tolice, como tudo é.

Vim sem nenhuma boa desculpa que justifique eu ser eu mesmo. Não tenho argumentos, subterfúgios, nem ninguém para colocar a culpa de eu ser o que sou. Minha defesa é nula, sou réu confesso e minha sentença é simplesmente ser-me.

Sou apenas um espectador, e dos piores, dos enfadonhos, sem opinião sobre o espetáculo, só vim até aqui porque o ingresso era gratuito e estava entediado.

(jblg)

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