quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Tic, tac, aponta o Ceifador ;
Tic, tac, cada passo é passo de dor;
Tic, tac, o condenado é a vítima;
Tic, tac, a vítima é o algoz;
Ninguém é livre do crime que comete a si mesmo;
Não há absolvição para o próprio assassínio;
A sentença é certa, é sofrer-se, é ser-se;
Para o criminoso, existir é o suplício;

(jblg)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Acordara, como todo dia acordara, mas não mais se reconhecera;
Ao espelho era um estranho que olhara, e nada compreendera;
Passageiro de si mesmo, espectador de um autômato;
Ao meio caminho despertara, sem saber da partida;

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Pela manhã deposito a esperança de que algo irá mudar, ou pior, de que irei mudar algo, para a tarde.
A tarde empurro a mesma esperança para o dia seguinte;
No dia seguinte carrego a esperança para o final da semana;
Ao final da semana, deixo-a para a próxima;
E na próxima, é o mês seguinte que se aproxima;
É o ano que virá, da década que desponta;
Passo, passo a passo, movendo o nada para lugar algum, até o instante derradeiro onde não haverá o seguinte;
E no instante último abraçarei o fardo para afundarmos juntos no oceano de vazio;
Busco justificar a existência com a prática de um oficio inútil.

(jblg)