quarta-feira, 30 de abril de 2014

XLVIII

Um homem resume-se as suas paixões;
E abandonar suas paixões é abandonar-se;
E abandonar-se é abandonar sua individualidade, sua personalidade;
Abrir mão de uma paixão é abrir mão de si próprio sem ser outro, é morrer para si;
Quem liberta-se, suicida-se.
E no luto que carrega de si mesmo aprende a viver;
(jblg)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

XLVII

Dezetrinta
10:30 diz o relógio;
10:30 para dizer que acordei há 3 horas porque o despertador tocou;
10:30 para dizer que em uma hora e tanto irei comer;
10:30 para dizer que parte do trabalho é findo e falta para as 18;
10:30 de sexta prelúdio do fim de semana, dizendo que nada tenho com que me preocupar;
10:30 para mostrar o que devo fazer;
10:30 para impedir de pensar;
10:30 para impedir de viver;
10:30 para a existência escoar;
10:30 para o tédio vencer;
Que de tanto dizer já são 10:31;

(jblg)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

XLV

Quando a vida é doente, tudo vira remédio;
Sexo é remédio para stress;
Meditação é indicada em casos de depressão;
Ter amigos evita infartos;
Namorar diminui o colesterol;
Cantar, dançar, previne ansiedade;
Ter um animal aumenta anos de vida;
Vinho faz bem para o coração;
Para uma vida doente, viver tornou-se remédio;

(JBLG)

terça-feira, 1 de abril de 2014

XLIV

Infelizmente, ou quem sabe nem isso, vim ao mundo desprovido de coisas que tornam a vida um pouco mais tolerável.

Vim ao mundo sem crer em nenhuma grande causa, nunca fui acometido por nenhum grande ideal, nenhuma fé arrebatadora, nenhuma comoção maior.

Tampouco cai em qualquer armadilha que meu ego poderia ter criado, até meu ego é um incompetente. Não cai em ardil, não tenho ilusões de que partirá de mim qualquer grande ação, qualquer grande feito ou qualquer grande ideia que fará alguma diferença no mundo. Até porque, não acredito em grandes ações, nem em grandes ideias, nem em diferença no mundo.

A história salva alguns, por ser incompetente para condenar a todos. Os grandes feitos, os heróis, os vilões, são meros acasos. As coisas simplesmente se dão, pois não poderiam ser de outra forma, e acreditar em algo diferente é tolice, como tudo é.

Vim sem nenhuma boa desculpa que justifique eu ser eu mesmo. Não tenho argumentos, subterfúgios, nem ninguém para colocar a culpa de eu ser o que sou. Minha defesa é nula, sou réu confesso e minha sentença é simplesmente ser-me.

Sou apenas um espectador, e dos piores, dos enfadonhos, sem opinião sobre o espetáculo, só vim até aqui porque o ingresso era gratuito e estava entediado.

(jblg)